Sombra, corpo e alma
SOMOS TRÊS
Somos três:
sombra, corpo, alma.
Cada um a seu modo vivendo
juntos os três andando.
Corpo vendo a sombra
corpo sonhando a alma.
Corpo sofrendo com pena
da alma e da sombra,
impalpáveis
num mundo virtual.
Corpo querendo ser corpo,
e logo alma apenas.
Corpo, vulto, mistério,
fantasma adestrado
em artes de se julgar vivo,
no entanto mais efêmero,
talvez.
Corpo, no entanto, pensando-se.
Transferindo-se em alma,
em sombra.
Corpo sozinho entre enigmas.
Vastas areias do tempo
aladas.
Sobre o corpo e a sombra.
E alma também contempla.
1961 – Cecícila Meireles
Sombra, corpo e alma… às vezes sou eu.
CAUROSA
“Na grande noite tristonha”
Na grande noite tristonha,
meu pensamento parado
tem quietudes de cegonha
numa beira de telhado.
_ Na grande noite tristonha…
Lembram planícies desertas
de uma paisagem do Norte,
as perspectivas abertas
no mundo da minha sorte…
_ Lembram planícies desertas…
Ao longo, distâncias ermas…
Em tudo quanto se abraca
há ligeirezas enfermas
de luas da Dinamarca…
_ Ao longe, distâncias ermas…
E sob olhares em pranto
de estrelas alucinadas,
vais, _ coroa, cetro e manto,
ó Rei das minhas baladas!
_ E sob olhares em pranto…
…………………………………………………………………………………………..
Na grande noite tristonha,
meu pensamento parado
tem quietudes de cegonha
numa beira de telhado.
_ Na grande noite tristonha…
E eu sonho o meu sonho oculto
de ave triste, _ que não voa,
detida a ver o teu vulto
de certo, manto e coroa…
_ E eu sonho o meu sonho oculto…
CECÍLIA MEIRELES
CAUROSA
Comentários